Coisas que você vai ver (e ouvir, se já não ouve)

Na semana passada tive a oportunidade de me adiantar aos lançamentos cinematográficos dos próximos meses. E devo dizer que tive muita sorte. Vi três filmes diferentes entre si, mas intensos, criativos, revigorantes.
Comecemos com “The disappearance of Eleanor Rigby” – William Hurt e Isabelle Huppert ccomo coadjuvantes de luxo, e Jessica Chastain e James McAvoy vivendo os protagonistas. História de um casal que se separa depois de uma tragédia doméstica, trata-se de um dois em um, dois episódios pelos olhos dele e dela. Chastain é provavelmente a atriz mais talentosa de sua geração, a trilha (o trailer aqui) é das mais belas, e três ou quatro sequências nos faz lembrar o que buscamos quando topamos nos ausentar do mundo por três horas para assistir histórias de gente que não conhecemos.
“Whiplash” é o melhor filme sobre música em anos (o trailer aqui). Na verdade, o certo é dizer se tratar do melhor filme sobre obsessão nos últimos anos. E arte e obsessão são irmãs siamesas que a toda hora tentam morder o próprio pescoço. É a história de um jovem e talentoso músico num conservatório de ponta, e sua relação com um professor genial e carrasco. Oferece o melhor que a combinação boa música e boas imagens pode oferecer.
“Birdman”. Apesar de adorar o “Beetlejuice” de Tim Burton, nunca fui muito fã do Michael Keaton (sua escolha para Batman é um dos maiores mistérios recentes da humanidade). Também não sou grande fã de Alejandro Iñárritu, o mexicano que dirigiu o excelente “Amores brutos”, antes de se perder nos panfletos filmados que fazia junto com seu parceiro roteirista Guillermo Arriaga (um tremendo mala sem alça). Para sorte do Iñárritu a parceria acabou e agora ele pode se soltar. “Birdman” é um achado (o trailer aqui). Um ator que fez muito sucesso como o herói de uma dessas franquias cinematrográficas de cartum (o Homem-pássaro do título), que resolve fazer uma montagem na Broadway, adaptando a obra de Raymond Carver. É difícil ler Carver e não tentar imitá-lo. Os mais sensatos, ou espertos, resistem à tentação e tratam apenas de homenageá-lo, como fez o Murakami em seu livro de corridas. É o que faz o mexicano. Em vez de adaptar para o cinema, o cineasta filma o que seria uma montagem de Carver na Broadway protagonizada por um ator sem nenhum crédito artístico. Edward Norton faz um dos atores da peça, um escroque para quem a vida só acontece no palco. Há ainda as ótimas Naomi Watts e Andrea Riseborough, mas por incrível que pareça (pelos menos para mim) é o Keaton quem brilha, num papel que emula um pouco sua trajetória. Filmaço para quem gosta de sair andando por aí com um filme na cabeça.

Uma nota para a próxima coluna: na semana que vem vou escrever sobre Carole King, mas se você não a conhece ou está com saudade, vale uma olhada neste documentário da BBC quando ela estava no auge.


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