No Clube do Livro das últimas semanas tratei do francês Max Jacob, cujo inédito “O gabinete negro”está saindo no país e de Franz Kafka em nova tradução de alguns de seus principais contos.
Nascidos com menos de uma década de diferença, suas trajetórias não poderiam ser mais diversas, reforçando a pluralidade do imenso fluxo criativo que tomou a Europa entre o final do século XIX e começo do XX. Jacob, sobretudo poeta, é figura central da geração das vanguardas que ocuparam Montmatre e Montparnasse, em Paris. Amigo e retratado por Picasso e Modigliani, estabelece-se como um ator social importante daquele período. Kafka, recluso e de circulação muito mais restrita em seus anos de vida, fez da investigação de suas próprias vivências (familiares, religiosas, sociais) material de sua obra magnífica.
Resta aqui um ponto de contato que os aproxima em chave dramática. Jacob, de origem judaica, converte-se ao cristianismo, dedica-se à vida monástica, mas não escapa da Gestapo. Kafka, que não chegou a testemunhar a ascensão de Hitler, lega ao amigo Max Brod a incumbência de destruí-la. Como sabemos, Brod o desobedece, escapando para a Palestina e possibilitando a nós, leitores deste século, possamos ter acesso a seus escritos. Exemplos práticos do copo de dados da existência tão bem registrado por Jacob em uma de suas obras mais importantes.